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FORTALECIMENTO DA CBF vs AMADURECIMENTO DAS LIGAS


Créditos: Lucas Figueiredo/CBF


COMO A PANDEMIA TRAZ UMA NOVA OPORTUNIDADE DE ORGANIZAÇÃO AO FUTEBOL BRASILEIRO.

Não é novidade que a pandemia de COVID-19 tem afetado a rotina de todo planeta em todas as áreas. Com o mundo em quarentena, ainda há mais perguntas do que respostas sobre o problema.

O futebol brasileiro não foi poupado e antes mesmo de sabermos as consequências da paralisação mundial, o cenário é de terra arrasada para a maioria dos clubes nacionais.

Não precisamos ir a fundo para entendemos como a crise atual coloca em xeque a saúde financeira de grande parte dos clubes do futebol brasileiro.

Suspensões indeterminadas de campeonatos, disputas contratuais, funcionários e jogadores sem receber, conflitos acerca dos direitos de transmissão, incertezas quanto ao restante da temporada 2020, estádios vazios e economia estagnada. Este é o reflexo de um mês da maior crise global dos últimos tempos, cenário que os clubes terão que enfrentar para sobreviver.

Diante de diversos problemas e incertezas, a crise nos permite vislumbrar novas oportunidades. No caso, uma chance de fortalecimento da desgastada imagem da CBF, ou ainda, o amadurecimento de uma organização de administração independente, comandada pelos clubes do futebol nacional, voltada a gerir as competições nacionais.

Fundamental entender que todos perderão com a crise, portanto, não se trata de escolher uma determinada classe ou entidade para arcar com os custos, mas sim, buscar amenizar a situação de uma maneira que todas instituições cheguem ao fim desse momento com a possibilidade de retomar suas atividades e recuperar o status econômico existente no início de fevereiro de 2020.

Surge o momento para a CBF se fortalecer institucionalmente, como parceira dos clubes, e não, simples mandatária do futebol.

Economicamente a CBF vive seu auge, com recorde de faturamento, alcançando em 2019 quase R$ 1 bilhão[1] de reais arrecadados – a maior receita de sua história – e lucro de aproximadamente R$ 190 milhões de reais.

Méritos a parte, a imagem da Confederação ainda é vinculada à de “vilã” para boa parte dos clubes do futebol brasileiro, sendo vista como aquela que tem muito e proporciona pouco.

Indispensável destacar que grande parte da receita bilionária alcançada pela CBF nunca esteve diretamente relacionada aos clubes ou competições, mas quase que exclusivamente ligada a Seleção Brasileira de futebol.

De acordo com a matéria publicada pelo jornalista Rodrigo Capelo em 2016, aproximadamente 82% do faturamento[2] da CBF teve direta relação com a Seleção Brasileira.

O problema é, a prioridade aos interesses da Seleção, criou um conflito de gerenciamento pela CBF, dois produtos distintos: de um lado os jogos da equipe canarinho, do outro o interesse dos clubes no aproveitamento máximo das competições nacionais.

Um simples exemplo, é a interminável discussão acerca da liberação de jogadores em datas FIFA. Os últimos anos demonstram que a prioridade sempre foi da Seleção.

Este conflito de interesses gera um desconforto justificado nos clubes, lado mais fraco da balança, pois veem seus produtos desvalorizados e subaproveitados, através de competições nacionais pouco exploradas, enquanto a prioridade da administração segue sendo do canário dos ovos de ouro.

Do completo caos instalado pela pandemia, e através de sua estabilidade econômica, surge a oportunidade da CBF resgatar sua imagem, fortalecer-se institucionalmente e ser a percursora de projetos que possibilitem aos clubes manter uma saúde financeira controlada até que retomem suas atividades.

A ideia é que essa medida se daria através de um fundo de emergência criado e gerido pela própria Confederação, distribuindo parte de seus lucros na forma de crédito aos clubes do futebol brasileiro, iniciando das divisões inferiores até a primeira divisão.

Além disso, outra parte deve ser diretamente direcionada às Federações locais, para que, através do mesmo sistema, façam as distribuições aos clubes que não participam das divisões nacionais.

Tal medida é possível e talvez oportunidade singular para a CBF fortalecer a sua imagem e confiança com os clubes do futebol brasileiro, firmando-se como um parceiro de negócios, dando a contrapartida que todos esperam no momento mais crítico da administração do futebol brasileiro, e podendo salvar diversas instituições até que se retorne a normalidade.

Na contramão, caso a CBF busque apenas medidas paliativas para enfrentar o problema, surgirá uma nova oportunidade aos clubes, e caberá a eles entenderem que não necessitam da Confederação para existir e muito menos, organizar suas competições, abrindo espaço para que os próprios interessados tracem seus caminhos de forma independente, colocando suas vontades em primeiro lugar.

Sem a interferência da CBF, será indispensável o diálogo e a união entre os clubes brasileiros, tendo em vista o conflito de interesses da CBF no gerenciamento da Seleção Brasileira e das competições nacionais, poderão desenvolver a ideia de um campeonato nacional organizado de acordo com seus interesses.

Nesse sentido, os clubes tem a chance de amadurecer a ideia de uma liga nacional, administrada para gerir, desenvolver e aperfeiçoar os campeonatos, proporcionando atratividade, priorizando o interesse dos participantes, melhorando o conteúdo e alavancando as receitas dos clubes brasileiros.

Não cabe a CBF fechar os olhos nesse momento de tamanha dificuldade, porém, ainda que nenhuma medida seja tomada, surgirá a oportunidade para os clubes alterarem a organização que estamos acostumados a ver e fortalecer cada vez mais o futebol brasileiro como um todo.

[1] https://epoca.globo.com/vida/esporte/noticia/2016/05/selecao-brasileira-responde-por-82-da-receita-da-cbf.html

[2] https://maquinadoesporte.uol.com.br/artigo/cbf-alcanca-recorde-de-quase-r-1-bilhao-em-receita-em-2019_39696.html